A polarização política se apresenta como reflexo natural de ocorrências comuns, não importa em que nação e em que canto do planeta: o desencanto profundo com os poderes constituídos (Judiciário especialmente), partidos políticos, corrupção e imprensa manipulada.

Nos EUA, eleitores republicanos e democratas têm atualmente divergentes visões sobre o papel do estado na economia, políticas de contenção do coronavírus, mudanças climáticas e outras, certo que 80% do eleitorado não teve contato com pessoas com visão política diferente.

As pessoas não precisam concordar em tudo. Porém ficou difícil assistir – sem se indignar – a manifestações racistas cada vez mais hostis, incitações ao rancor, antagonismos e divisões sociais. Lá, Trump estimulou divisões, nunca somou e isso preocupou não só os norte-americanos, mas também as nações liberais democráticas.

Aqui no Brasil a polarização radical, especialmente nas redes sociais, é algo nunca visto: lesivo, imponderável e assustador, crescente que será até o próximo pleito eleitoral.

Importante destacar que a vida pública do eleito Joe Biden sempre foi movida no caminho de trabalhar pela unificação em tempos determinantes, como agora, no furacão de uma pandemia mundial e polarizações descontroladas. Aliás, Biden, em 2017, decidiu concorrer à Casa Branca quando viu neonazistas, supremacistas brancas e integrantes do Ku Klux Klan nas ruas, num crescente da organização política dos ódios.

Nessa polarização, o centro achou seu norte nas figuras de Biden e Kamala! “Virtus in medium est”, ou melhor, a virtude está no meio: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem oito, nem oitenta!

Biden representa uma derrota do retrocesso civilizatório, a partir da votação popular mais significativa registrada por um candidato em mais de 200 anos nos EUA, animando os mercados pela previsibilidade, cooperação internacional e retomada de consensos como, por exemplo, a preservação do meio ambiente.

Com quase 50 anos de vida pública (seis mandatos como senador e oito anos como vice de Obama), marcada por tragédias pessoais e incríveis superações, personalidade moderada, embora não se apresente de forma eletrizante, Biden se tornou o político mais votado da história norte americana: 240 mil americanos vitimados pela Covid, grave crise econômica, explosões de racismo e violência policial, associados à polarização política levaram ao mais alto comparecimento às urnas em mais de um século, mesmo período de tempo em que apenas 5 presidentes americanos não se reelegeram, incluindo o próprio Trump.

vice, Senadora Kamala Harris, capítulo à parte, representa as expectativas e anseios de quem confia nas conquistas civilizatórias, liberdades públicas e no papel fundamental da mulher e dos negros nas engrenagens da cidadania e no restauro da integridade e da normalidade de uma nação que, ao menos no passado, espargia democracia, no papel e na prática.

No contexto da polarização e crise econômica sanitária sem precedentes, é hora de união e de cura das nações que precisam ser menos divididas.

A ignorância espalhada em países como Estados Unidos, Brasil, Hungria e Índia (para citar alguns) não traz benefício algum às nações.

É por isso que a perspectiva de um fim à era de raiva e divisão ganha contornos importantes com Kamala e Biden. Os desafios e aflições do povo americano convergem em parte com os dos brasileiros: saúde, economia, racismo, meio ambiente, armamento, política externa e polarização estão na pauta diária.

Nesse cenário positivo em que se restauram, com Biden/Kamala, valores democráticos, liberais e de festejo aos direitos humanos, individuais e das minorias, os interesses bilaterais do Brasil e EUA sairão mais fortes, até porque são mais profundos e duradouros do que a relação entre indivíduos sazonais com a caneta e poder nas mãos.

Como sempre dito pelo inigualável Obama, “nós podemos”! Sim, nós podemos acreditar, a partir de agora, em dias melhores. Basta que as instituições e a sociedade, encontrando o seu “centro” – a virtude está no meio -, imponham freios às idiossincrasias ideológicas que nada trazem de positivo. Se as democracias sobrevivem aos piores ataques e inimigos, bastando existir liberdade, cidadania ativa, império da lei e liberdade de imprensa, a busca de meios-termos é o melhor caminho para revitalizar o sistema político.