Matéria do “Valor Econômico” informa: metade dos profissionais submetidos a um teste de integridade demonstra tendência a sucumbir a desvios ou a não denunciar colegas que desviam bens da empresa; manipulariam ou aceitariam que colegas manipulassem relatórios de despesas pagas pela companhia com o intuito de ganhar valores. E mais, 2/3 dos entrevistados demonstraram ter tendência a realizar pagamentos indevidos para beneficiar fornecedores, e somente 29% percebem realmente que pagamento indevido a terceiro é fraude.

Os entrevistados responderam: “Você aceitaria suborno? Se você recebesse presente de um fornecedor na sua casa como você se sentiria? Feliz ou irritado? O que te impediria de aceitar suborno?”

Num momento sócio-político-legal em que diversas leis e normatizações setoriais impõem condicionantes de boas práticas de governança – Lei anticorrupção, Decreto acerca das Empresas e Direitos Humanos e Lei Geral de Proteção de Dados, por exemplo-, esses índices elevados de tendência a aceitar desvios éticos demonstram que os programas de Compliance merecem mais atenção, não importa o tamanho e segmento.

Muitos empresários afirmam agir dentro dos parâmetros éticos necessários, achando estar efetivamente com suas gestões em conformidade com a mais adequada governança corporativa. Questionados se necessitam de auxílio para implantar ou aprimorar seus programas de Compliance, sustentam que não. Ledo engano!

Desvios éticos do cotidiano, como os identificados na tal pesquisa, além de, por exemplo, não dar nota fiscal, não declarar impostos, tentar subornar autoridades, encobrir episódios de assédio, falsificar rubricas e assinaturas, forjar exigências ambientais e deturpar relações laborais, dentre outras, configuram ausência ética e se vê aos montes!

As leis e as exigências do mercado quanto à implantação e efetividade de programas de Compliance têm incutido nova visão empresarial: eficiência somada à eficácia dentro de parâmetros éticos para se atingir objetivos legítimos é a tônica.

Mas há muito a se avançar: a pesquisa assusta!

Só haverá empresas éticas quando houver gestão a cargo de pessoas éticas, permeadas de valores morais e princípios norteadores de condutas que levem ao equilíbrio e bom funcionamento social.

Pautar-se pela confiança, integridade, honestidade com o que se diz e faz; cumprir promessas, ser leal, preocupar-se com o interesse de funcionários, clientes, fornecedores; tratar com respeito sem discriminar, dar autonomia e respeito à privacidade, expressar positivamente o caráter, ter responsabilidade, tomar decisões que não prejudicam ou afetam negativamente pessoas, policiar-se para não ser injusto, preocupar-se com as pessoas nos relacionamento social e profissional, ser cidadão obediente às leis, cooperar com questões sociais e ambientes, dentre outros comportamentos, atestam o perfil louvável do empresário, gestor e colaborador.

Sendo ético, o propósito passa a ser a tomada de decisões eticamente, (iniciando ou) incrementando um programa de Compliance: estar em conformidade com normas externas e internas, leis, regulamentações, políticas corporativas, via procedimentos visando detectar, prevenir e combater fraudes e infrações às leis e regulamentos, assegurando que valores e padrões de conduta ética sejam observados por todos.

Orientar, prevenir, analisar riscos, elaborar e revisar políticas e procedimentos, insistir em treinamentos, comunicação interna, orientações, respostas a consultas, ativar canal de denúncias, remediar quando preciso for. Os benefícios de agir eticamente reforça o compromisso da empresa com a ética e integridade empresarial, faz valer valores e princípios, protege a reputação e diminui riscos de atos ilegais.

O Brasileiro não pode furtar-se à adequação de suas posturas à boa ética empresarial. Da minúscula até a mais complexa corporação, os programas de integridade são ferramentas essenciais à sobrevivência num mercado em que o máximo enquadramento aos preceitos éticos passa a ser das melhores ferramentas de prosperidade negocial.

“Ética não é uma escolha. É a única forma de se viver sem o caos”. (Ministra Cármen Lúcia-STF).